As lembranças insistiam em me incomodar. Não adiantava tentar desviá-las do pensamento porque ele teimava em voltar ao passado. A saudade batia feio. Tentava me concentrar na carregada agenda que teria que cumprir, mas logo já estava longe, no Hotel Columbia, da Timbiras, onde sempre nos hospedávamos.
Ora me via entrando no Colúmbia, ora aguardando o semáforo da São João com Ipiranga, sempre ao lado dele.
A vontade era a de voltar no tempo e viver tudo de novo.
Deixar o pensamento solto, jantar no Rubaiyat, almoçar no Bar Brahma, andar na Paulista, visitar a Rua Augusta, onde Roberto Carlos entrava a 120 por hora.
Tanta coisa a se fazer em um fim-de-semana! Eram intensos nossos fins-de-semana.
Agora a saudade viera para remexer isso tudo, depois de tanto tempo...
Tantos anos se passaram desde a despedida e estou vivendo tudo de novo hoje, agora. Meus pensamentos me colocam lá, no passado. Estamos na esquina da São João para atravessar a rua e tomar um café.
Fazia sempre frio e aquele café quentinho, à noite, aquecia-nos o corpo e a alma.
A saudade está rondando a mente e apertando o peito.
Começo a sentir intensa vontade de ir àquela esquina, àquele hotel. Ainda existiria?
No computador, à minha frente, o site mostra que o Columbia sim, ainda está lá, na Timbiras, igualzinho ao que era. Na tela as fotos mostram o interior dos apartamentos, tão conhecidos meus.
Interrompo a pesquisa e recosto-me no sofá para relaxar um pouco; só um pouco...
Vai crescendo a atração que SAMPA me impõe. A certeza vai tomando conta da dúvida.
Já me encontro pegando a pequena mala onde coloco poucas coisas, poucas mudas de roupa. Pegarei o ônibus das 18 horas na Rodoviária do Rio, como sempre fazia.
Pronto. Comprei dois assentos para que ninguém viajasse a meu lado. Encostei-me ao vidro da janela, com o rosto bem colado para ver o céu, a lua e as estrelas.
Que sensação deliciosa! Se estava indo ao encontro do passado então teria que fazer tudo igualzinho.
Por volta de meia-noite cheguei à Rodoviária de São Paulo. O Colúmbia era perto dali, mas fazia-se necessário o táxi.
Cheguei. Deixei-me ficar na calçada por algum tempo e admirei a fachada do Hotel. Entrei devagar no grande hall. Queria saborear cada segundo. Olhava tudo e tentava reconhecer detalhes.
Eu estava no Columbia!
Apenas um jovem atendia por trás do balcão. Do lado de cá um senhor, debruçado sobre uma folha de papel, cumpria a formalidade da hospedagem.
Ao soar o meu "boa noite" ao recepcionista, o senhor virou-se rapidamente em minha direção.
- Jorge! - Balbuciei, incrédula.
Ficamos assim, imóveis, por alguns segundos até que, num impulso, nos lançamos para o melhor dos abraços: silencioso, apertado, demorado.
Quando conseguimos falar, Jorge contou-me do forte sentimento que também o impulsionara ao Columbia. Aquela noite seria curta para tudo que tínhamos a dizer.
Antes de subirmos ao apartamento, convidei-o ao famoso cruzamento das tradicionais ruas de SAMPA para o ritual do cafezinho, sob a garoa paulista.
Antes de subirmos ao apartamento, convidei-o ao famoso cruzamento das tradicionais ruas de SAMPA para o ritual do cafezinho, sob a garoa paulista.