domingo, 25 de novembro de 2018

Tio Maximino


Soa a marcha nupcial e Linda entra na igreja pelas mãos de Maximino, mãos que nunca lhe fizeram um carinho, porém ninguém melhor que o tio para conduzi-la ao altar.

Caminham pela nave a passos lentos. Tio nervoso e noiva calma. Quanto demoraria o percurso entre a porta de entrada e o altar? Continuam em câmera lenta, ao encontro do noivo.

Linda já não ouve a música do coro, do violino, do órgão; ouve somente a respiração nervosa de seu condutor, a mesma respiração que sentira aos sete anos quando o tio a levara de bicicleta, de Santo Cristo a São Cristóvão, para um passeio à Quinta da Boa Vista.

O tio pedalava ofegante do esforço. Ida e volta. E era maior a dificuldade de Maximino que tem uma perna mais curta devido à meningite que tivera em criança.

Tio Maximino não era de abraços e beijos, mas era quem Linda, menina, todos os dias, esperava chegar do trabalho para ganhar 10 tostões "pra comprar coca-fina", uma cocadinha com gosto de água sanitária que Linda adorava. Quando via de longe a sobrinha correr a seu encontro abria largo sorriso

Linda caminha leve pela nave. Neste momento os flashes de sua memória confundem-se com os das câmeras fotográficas.

Agora via o tio chegando com uma enorme caixa que colocou em seus braços, sem nada dizer. Ao abrir a caixa, um sorriso iluminou-lhe o rosto. Era uma linda boneca de louça, vestido cor de rosa, cabelos loiros em cachos.

Os pensamentos avançaram para seus dezoito anos quando uma bicicleta foi mais um presente inesperado. Era o jeito de declarar seu amor pela sobrinha. E Linda se sente agora pedalando pelas ruas de paralelepípedos.

Assim era ele. Fazia o bem, estava sempre presente, sem alardes.

E agora está ali, emocionado, atravessando o longo tapete vermelho, honrando o falecido irmão mais velho, conduzindo a sobrinha amada ao altar.

Antes de soltar seu braço, Linda olha agradecida para este homem que sempre lhe dedicou tanto amor e, só agora, percebe quão importante ele é em sua vida.

Suely Domingues Canero

sábado, 10 de novembro de 2018

Embriagado de Amor


Uma alma vaga sombria
Pelas praias de Cabo Frio.
De quiosque em quiosque,
Um trago.

E bebe só por pirraça
À mulher que, bem sabia,
Jogava ao lixo as cartas
Que a sonhar lhe fazia.

A saudade lhe doía
E em seu peito não cabia
Tanto amor que nunca passa
Que lhe dói e lhe corrói
E lhe consola a cachaça.

A onda traz a espuma
A água gela seus pés
Olha as mulheres da praia
Mas não encontrando aquela
Que lhe traz tanto sofrer
Pede ao garçom outra dose
Para a ingrata esquecer.