domingo, 27 de janeiro de 2019

Vovós Benzedeiras (Da série Vovós anos 1940)

Eu e minha irmã caçula, Suelem, ainda bebês, contraímos sarampo. Suelem veio a falecer deixando a família desolada e mamãe em desespero, sentindo-se culpada. Não era.

A época era de pouco avanço na medicina, sem vacina e sem tratamento para a doença. Os mais velhos diziam que para curar sarampo bastava colocar um lenço vermelho no pescoço. Mas não, a terrível doença poderia levar à meningite e à morte. E foi o que aconteceu à pequena Suelem.

Após esse episódio dramático, mamãe apavorava-se a cada vez que eu tinha pequena febre ou náuseas e corria a pedir socorro às minhas avós, que moravam nas vizinhanças. E lá vinham elas em socorro da neta.

Ambas as avós eram espíritas. Vovó Amélia logo baixava um caboclo e me dava passes ou, caso fosse um simples galo na cabeça, pegava um facão e, batendo na porta, dizia:

- Esta porta tem três tábuas: um, dois, três. 
E no um, no dois e no três, apertava a lateral da faca no galo "para não cantar de noite".

Também me fazia passar por um exame minucioso de "espinhela caída". Juntava meus braços no alto da cabeça como se fizesse um alongamento. As pontas dos dedos tinham que terminar juntas; caso uma delas estivesse mais curta durante o alongamento, o diagnóstico: espinhela caída. E vinha a receita: um banho de sal grosso com arruda:

- Não pode jogar água na cabeça; é do pescoço para baixo.

Já minha avó paterna, Carmen, possuía o poder de acalmar-me, de transmitir-me confiança tão grande que mal eu começava a sentir os primeiros sinais de mal estar pedia que a chamassem. Ela sentava-se a meu lado na cama, punha as mãos em minha testa e rezava. Aquilo me confortava muito e me dava a certeza de que logo ficaria boa.

Vovó Carmen também poderia colocar rodelas de batata em minha testa e prendê-las com um lenço.
E ficava ali, sentada junto a mim, até que tudo estivesse bem.

Eu as amava muito. Eram grande esteio em minha vida.

Suely Domingues Canero.