Chiva
Todos os dias saíam a passear. Ele sempre à frente e ela o seguia observando tudo que se passava ao redor.
Depois entravam na vila onde uma casa fora adaptada para restaurante.
Quando ele acabava de almoçar ela o seguia, rumo a casa.
Comecei a me apaixonar por ela. Que olhar doce!
Olhar que eu recebia todas as vezes em que nos encontrávamos.
Ele, ao contrário, não era lá de muitas conversas. Não sei seu nome e nunca nos falamos.
Mas sobre Chiva eu sabia tudo.
À medida em que o tempo foi passando as cenas se repetiam, porém Chiva andava mais devagar. Olhar baixo, sem interesse pelo que se passava à sua volta. Parecia doente.
- "Ela está doente", confirmou-me a moça do balcão.
Meus carinhos se multiplicavam ao encontrá-la à espera dele, no portão do restaurante.
Certo dia vi-o almoçando sozinho.
- "Cadê Chiva?" perguntei à mesma moça do balcão.
- "Morreu". respondeu ela. Que baque recebi!
Hoje ele conserva os velhos hábitos. Sozinho.
Olhamo-nos de relance ao cruzar a rua. Algo existe entre nós: a saudade de Chiva.
Homenagem à saudosa Cachorrinha Chiva.
Suely Domingues Canero maio/2021