Sua Excelência o Professor Link (Da série Avó anos 2010)
Sempre apoiei as reivindicações dos professores, classe desde sempre preterida pelos governos e pelos donos de colégios particulares, com ínfimos salários, bem aquém do que merecem.
Hoje começo a me questionar sobre o atual desempenho desses já não tão abnegados profissionais.
Venho acompanhando o currículo escolar de minha neta, auxiliando-a em seus estudos e, de certo, auxiliando a mim também, como estimulante da memória.
Semana passada minha pequena parceira teria prova e pediu-me:
- Vó, estuda português comigo?
- Claro, filha! Qual a matéria?
- Análise de orações.
- Mole. Sempre fui "fera". Sei muito. - me gabei - Cadê o caderno?
- Não, vó, é um Estudo Dirigido. Temos que abrir o computador. Achei esquisito mas concordei:
- Vamos lá, então.
Computador aberto, entramos no primeiro link. E lá está:
ESTUDO DIRIGIDO - Matéria da prova: orações subordinadas
- Entre no segundo link para saber o que são.
- Entre no segundo link para saber o que são.
Entramos, então, no segundo link e "aprendemos" o que são orações subordinadas.
Ao final, mais um comando: - Agora entre no terceiro link para ler o texto.
Abrimos o terceiro link e lemos o texto.
- Agora entre no quarto link para resolver as questões.
Bom, o processo seguiu com perguntas sobre adjuntos, complementos, voz passiva e tudo aquilo que nossos bons e dedicados antigos mestres nos ensinaram dia a dia, passo a passo, aumentando, a cada ano, o grau de dificuldade, com tudo anotado no caderno e, a cada dúvida, nos era por eles esclarecida. Sempre tínhamos uma gramática da língua portuguesa a nosso alcance para reforçar o que os saudosos professores ensinavam-nos em aula.
A partir daí comecei a perceber que em todas as matérias se usava esse processo de deixar ao computador a função nobre de transmitir conhecimentos, função inerente ao profissional qualificado para a nobre missão do ensino curricular.
Comecei a me questionar: que raios de professores esses? Os alunos se tornaram autodidatas! O que leva um professor a abrir mão do sagrado dever de, ele mesmo, praticar a sagrada ventura de ensinar aos alunos?
Por que os mandar à escola se tudo aprendem através de robôs, representados por links?
Ah! Saudade de meus queridos mestres! Lembro-me de cada um. Da maneira como se movimentavam pela sala, da maneira teatral de um, do outro que escrevia completando todo o quadro negro com a matéria, das terríveis arguições orais de matemática quando a gente costumava se esconder atrás do colega da frente para não ser chamado a arguir... Tudo ficou no passado
O hoje é um robô chamado link sem o suave perfume que nos envolvia quando as professoras passavam entre nossas carteiras.
Suely Domingues Canero